segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um desabafo da deplorável remuneração da polícia... o que tem a ver com sua vida?


Falar de melhores remunerações, boas condições de trabalho e capacitação profissional para os servidores policiais militares, para a sociedade em geral, pode parecer redundante, banais e, de certa forma, até desnecessária tal discussão, pois acreditam que isso é “problema da polícia” e que “ninguém tem nada a ver com isso”. Opiniões dessa natureza é que corroboram para a deplorável situação em que se encontra a Segurança Pública do nosso país.

Não é difícil concluir que, com o passar dos anos, a falta de perspectiva financeira e de ascensão profissional, somado ao estresse, ao risco diário da profissão e à conseqüente desestrutura familiar, conduz muitos policiais ao vício das drogas e do álcool, às doenças mentais e do corpo e aos desvios de conduta que contradizem a sua missão. Quando este último ocorre, infelizmente, o Estado geralmente perde o policial para a criminalidade e o pior, esse processo contribui para agravar os problemas sociais já existentes, pois tal situação envolve toda uma estrutura familiar, os dependentes também entram num processo de degradação social. Perceba que estando esse policial no fundo do poço da criminalidade dificilmente existe salvação, pois ele já está envolvido no “submundo” e caso pense em sair, é tarde demais, uma vez que já está dependente financeiramente do sistema em que se envolveu além do que, pode colocar em risco sua vida e de seus familiares.

Veja como começa esse ciclo:

- Com a falta de atenção dos gestores, o policial militar no Brasil, que possui baixíssima remuneração e é sempre submetido a uma exaustiva jornada de trabalho, como qualquer profissional, sente a necessidade de melhoria financeira, porém, diferente de muitas profissões, a função de policial é diariamente posta em cheque, uma vez que “o sistema” esta numa linha tênue que divide legalidade e criminalidade;

- Então sem ter muitas vezes como reivindicar melhorias, o policial começa a identificar diversas “oportunidades” em que pode tirar “vantagem” financeira para suprir suas necessidades e, com a falsa sensação de que ninguém vai descobrir, inicia um processo que envolve extorsão, tráfico, roubo, entre outros crimes.

Nesse momento o Estado já perdeu o policial, agora ele é um criminoso, o pior dos criminosos: o policial “bandido”, aquele que detém informações privilegiadas e que incrementa cada vez mais o crime organizado. A pessoa humana que está por trás daquele policial, agora fica apenas com aquela velha e saudosa lembrança dos tempos em que tudo era um “sonho”.

E de quem é a responsabilidade? Do policial? Do Estado? Da sociedade? Dos Direitos Humanos? Por que isso acontece? Poderia ter sido evitado?

Vamos entender um pouco mais como tudo acontece:

- Todo policial tem o “sonho” antes de entrar na “gloriosa”: combater o crime, fazer justiça, aplicar a lei com o risco da própria vida..., porém, ele começa a se desfeito logo no inicio do curso de formação: são mazelas como o atraso de salário na reduzida bolsa de aluno, são as dívidas e débitos contraídos com a falta desse dinheiro, sem falar nas péssimas condições de alimentação e no sistema humilhante que alguns superiores tratam os alunos.

- Depois da péssima formação inicial, as mazelas só se acentuam, são más condições de trabalho, viaturas quebradas, armamento defasado, falta de treinamento... que com o passar dos anos só se agrava, vão chegando as ocorrências chocantes, as diversas situações de risco, o estresse, que nesse momento profissional já é grande. É nessa hora, que o policial precisaria de ajuda e de intervenção, mas o Estado e o Comando não percebem e não propiciam nenhum acompanhamento médico, psiquiátrico.

- Então isso se agrava mais com a falta de perspectiva de promoção, a péssima remuneração, que a cada ano fica mais defasada, a inexistência de um plano de cargos e salários, pois tudo aumenta (alimentação, aluguel, combustível, etc.) e o salário nada. Daí vão vindo mais frustrações, e sem poder reivindicar, não poder fazer greve, aquilo vai descendo de “goela à dentro”.

            Daí, o estresse vai se acentuando cada vez mais, o policial já está respondendo a justiça, direitos humanos, sociedade. Não consegue discernir direito o certo do errado, e quando percebe, já está doente, velho, cada vez mais pobre... É nesse momento de desespero que se inicia o processo da “oportunidade” que ninguém tentou evitar por ser “problema de polícia”.

Não precisa ser um “expert” para concluir que uma boa remuneração, além de evitar esse problema social, melhora e afeta outros segmentos também. Por exemplo: a saúde, o policial bem remunerado poderia pagar um plano de saúde para ele e para sua família, isso diminuiria o gasto público com tal demanda nos postos de saúde, sem falar nos remédios e tratamentos psicólogos. Além do que, com melhor saúde, teríamos mais homens na rua, menos atestados médico; a moradia, o policial iria poder comprar um imóvel para sair do aluguel, poderia ele morar longe das periferias, onde muitas vezes não pode combater nada porque os criminosos o conhecem; a Educação, além de poder se qualificar mais, fazendo cursos superiores, técnicos, ele também poderia pagar um bom estudo para seu filho, isso diminuiria “os excessos” nas escolas públicas; a economia, o Estado iria crescer mais, o policial teria mais participação econômica – financeira; a Alimentação iria melhorar com uma feira mais nutricional, o policial se alimentaria melhor para cumprir sua missão com mais entusiasmo; o sistema de segurança, ganharia no todo pois além do policial ter a possibilidade de possuir sua arma registrada, não precisaria fazer “bicos”, não pegaria “toco”, a categoria teria mais motivação, então o “sonho” se tornaria realidade e a segurança aumentaria, ganhando eu, você, todos nós!!!

Então parem para refletir: a remuneração do policial tem a ver com a sua vida?

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